Coisas pequenas
Tanto e tão pouco
Sao coisas pequenas
Que fazem os dias inesquecíveis.
Teu olhar,
O mar,
O vento em teu rosto,
Estar perto de ti,
Te amar.
Coisas pequenas.
Águas de março
Primeiro o verão chegou
Depois se foi, partiu, então,
As águas de março.
Correram pelas ruas
Do meu coração.
Lavaram meus olhos,
Levaram Promessas,
Rasgaram caminhos,
Carregaram coisas velhas,
Sonhos de menino,
E romperam as margens,
Da minha emoção.
Meu rio transbordou
Saiu do eixo antigo
Mudando a paisagem
Do meu coração.
Novos horizontes
Pontes
Arvores
Perspectivas
De sol a brilhar
Que as chuvas de março
Logo vão passar.
Foram as águas de março fechando o verão
Paraiso
Esta ali perto dos olhos
Mas distante da vista
Para entrar
Basta abrir o coração
E cerrar os olhos
Deixar de ver
Para ver de outro modo
tempo de marés
Fico a espera
do teu corpo
como quem espera
a mudança de maré.
Chegas crescente
em suave fuidez.
Vagas constantes
inundam meu ser
e nesta praia
onde nos entregamos
a VIDA nasce eterna.
perto
Perto daqui
Dentro do peito
Ha um mar imenso,
desconhecido,
Oceano sem mapa,
Continente sem porto.
Vou zarpar nessas aguas
Com as velas abertas
Para me perder.
Quero navegar nas marés
Ao sabor dos ventos.
Ha um mundo
A mapear dentro de mim.
Quero conhecer,
Cabos,
Medos,
Bancos de areia,
Rochedos,
Ilhas,
Rios,
Segredos,
Tesouros.
Dobrar minhas tormentas
Em cabos de boa esperança
Azul
Cai a tarde por entre o dia e a noite,
E a sombra de teus cabelos desenha a areia.
Olho tua figura como uma miragem.
Que logo em seguida se desfaz
Com o brilho e sorriso de teu olhar.
Real como o vento que sopra em teu rosto
É esse azul profundo do teu olhar que me dá vida.
Viver
Ainda não sei ao certo,
Se o rumo ou o mar em que navego,
Servem para minha viagem.
Tem coisas que se descobrem aos poucos
E se entendem no tempo.
Há que navegar entre o medo e o destino
Enfrentar o que me faz tremer
Pois um dia de cada vez, neste mar,
Faz a diferença, entre estar e ser.
Navegante de mim mesmo,
Neste oceano que muda a cada instante,
Tento entender os sinais, para acalmar
Meu coração aflito.
Um mar revolto e inquieto
Assalta a mente e a faz estremecer.
Inseguro barco que navega ao vento
Com as marés a encher o peito
Na busca de um porto distante.
Na busca de uma rota
Procuro entender e fico a ler as estrelas.
Finalmente, o destino é claro
Navegar é preciso,
Viver também o é.
Um dia de cada vez…
cada emoção, cada sentir, cada saber, ou o amor…
É mergulhar em mim mesmo,
Dentro deste mar, que é meu ser,
Com a certeza do novo,
Na coragem de querer, sempre
Viver, navegar!
Mare Nostrum
Este mar que me encara nos olhos
Faz-me querer sair por ele na descoberta.
O vento, sopra, sussurra, grita
Rompe os ouvidos com palavras incertas
Notícias de outros rumos, marés abertas.
Navegante de areias a andar na praia.
Quero antever o mar rasgado na quilha,
Imaginar os sulcos de espuma traçados
Deixados pra trás no finito do barco
Do ponto de partida ao ponto de chegada.
Fico a remoer idéias e possibilidades.
E a vontade de navegar enche-me as velas.
Caminho na areia em passos largos, profundos,
Como quem quer marcar com os pés o trajeto.
Rota segura, eu penso e, afundo os passos.
Para deixar as marcas que servirão na volta
Nesta trilha de mares navegados,
Mare nostrum.
E as ondas que chegam
Apagam tudo depois que passo
E voltam ao mar vezes sem fim.
Viro finalmente no fim da praia.
Quero rever a obra terminada,
Com o olhar de quem já alcançou o objetivo.
Demoro para entender,
Não sobraram as rotas que tracei,
As águas que naveguei, os momentos que vivi.
O mar apagou tudo, e o mundo por onde andei,
Surgiu novo, como se fosse um desconhecido.
Corro enlouquecido atrás das ondas, grito e reclamo,
Culpo o mar, o céu, a areia, o infinito,
Todos cúmplices desta eterna roda maluca.
Estou furioso, mas respiro,
Sentado na areia, fico a olhar ondas a chegar
E aos poucos caio em mim.
A vida e o mar sempre diferentes
Mas isto é o bom de viver,
Um momento novo a cada instante.
Olho a areia e volto a navegar na praia em passos largos…
É ilusão a vida no pensar.
Viver é mergulhar, sentir, arriscar
Cair nas ondas…
Experimentar…
Acordar
Um dia vi, e acordei.
Minha vida tinha sito inteira,
Vivida no medo e na angustia de perder
Algo, alguém, alguma coisa.
Pensei e resolvi, vou viver!
Ganhei vida, arrisquei, senti, ri e chorei.
Na vida ganha quem aposta e quer jogar.
Perder é não acreditar, eu acredito e arrisco.
A única coisa que perdi, foi o medo.
E ganhei uma vida inteira pra usar.
Luis Pardal
Romper as margens
Vou sair para dentro de mim a procurar.
Quero descobrir a forma de romper a vida,
De alargar as margens do comum e encontrar
A força que tem o rio na distância do mar.
Quero viver como riacho que desce inquieto
E cresce no espaço com um rumo certo,
Na busca do ideal que o transforme
Em rio, em mar, em oceano.
Serei feliz, desperto pra vontade de errar.
De fazer o novo a cada instante, reinventar,
Envolver, crescer, expandir a vela, navegar
Sair , romper as margens.
Quero encontrar a simplicidade das cores
A indefinição de forma das gotas de orvalho
A plasticidade etérea das correntes de ar
Estar comigo mesmo frente a frente
Ver e olhar consciente.
Viver a vida intensamente.
Luis Pardal
Foto: Luis Pardal
REDES AO MAR
Viver a olhar a maré mudar
Ser pescador de sonhos,ideias e esperar
A chegada dos cardumes do mar.
Olhar a vida de vigia
Na praia esperar o dia
Barco, enchente e pescaria
Homem e ser em sintonia
Ter as certezas das estações e do tempo
Do sentir, do estar, do querer, do momento
Com a mesma simplicidade de quem sabe ler
Apenas os sinais, os sentidos o ter.
SE AS VEZES
Se as vezes
Faltam as palavras
É porque meus pensamentos
Percorrendo os sentimentos
Buscam as certas para te dizer
Quero te falar
De tantos momentos e
Uma multidão de imagens
Percorre meus olhos.
Da minha boca
Só sai o silêncio.
Um calado êxtase
Do quanto te amo
Te quero
Te desejo
Meu porto, meu leito
Meu mar aberto
Minha vida.
Aurora
Doce encanto
Vinho novo
Por do sol
Entardecer
PASSAR A VIDA
Deixo os pensamentos soltos correrem velozes ofegantes.
Até chegarem perto de ti.
Pressinto no silêncio dos teus lábios o fim do dia,
E fico a ver sair, dos teus cabelos dourados, o sol poente.
Assim extasiado com teu olhar cinzento,
Mergulho nesse mar, lindo e profundo, da cor do infinito.
Penso, olho e reflito, no motivo de querer
Passar minha vida ao pé de ti, e ser,
Apaixonado, marido, companheiro.
O motivo que me ocorre é de saber
Esse mar a cada dia a rodear-me a vida,
Ao lado desses olhos que me fizeram ver
A razão de viver os meus dias por inteiro
SAL NAS VEIAS
Corre o sal deste mar em minhas veias,
E os sonhos dos navegantes povoam meus dias.
Desenho rotas para fora do alcance e do olhar
Deixo-me ficar por sobre as águas com ânsias de zarpar
Quero a quilha de um navio no peito
A rasgar as ondas com vontade e fúria, insatisfeito.
Quero ir alem do mar profundo
Ir alem do mar finito
Largar, sair da barra, mar a dentro,
Levar o mar nos braços, velejar.
Rumo ao sul, ao mar, ao sabor do vento.
Rumo ao mar, ao mar somente, navegar!